segunda-feira, 9 de setembro de 2013

     Qual sentido para sua vida?
     Isso pode parecer um tema estranho para um medico escrever, mas como descrevi nos artigos anteriores, o corpo físico e a mente são partes (inseparaveis) de um mesmo organismo, que se influenciam mutuamente. O que altera a mente influencia o corpo, e vice versa.
    Então entender o “sentido da sua existência” tem tudo haver com um bem estar psíquico, e logo com a saúde do corpo.
     Entender o sentido da vida não e’ uma tarefa fácil. Desde jovens somos estimulados pela escola, sociedade e ate mesmo por nossa família, a sermos ambiciosos e buscar o sucesso material. Isso implica em grande parte dos jovens entrarem na vida adulta tendo passado por cima (e desapercebidos) de seus dons, seus sonhos e suas vontades próprias. E’ o “ter” sendo mais importante do que o “ser”. E aos poucos, esse jovem, se torna um adulto rico e famoso (quando com sorte), mas interiormente vazio e infeliz. Lembro de na minha turma de formatura de faculdade de medicina, em 1990, que eramos 70 e poucos formandos, e desses, mais ou menos 40 tinham optado por se especializarem em obstetrícia e ginecologia, que “por coincidência” era uma das especialidades que mais facilitava uma rápida ascensão profissional. Sera’ que grande parte desses meus jovens colegas optaram pela vocação ou por um oportunismo?
      A depressão e’ considerada um dos principais males da nossa época, causada não so’ por esse motivo citado, mas acredito que muitas vezes sendo sim por isso.
      Estamos distantes de nossa essência. Não sabemos direito nossas potencialidades. Buscamos muito “fora”, com sede de conhecimento no “google” e por outro lado olhamos pouco para dentro de nos- ou por não nos darmos esse tempo e espaço, ou por medo de algo que vemos em nos, e ai optamos por “jogar para debaixo do tapete” a sujeira.
       A transformação do homem ocorre quando ele se torna o que ele e’, e não quando ele tenta ser o que ele não e’.
      Mas esse distanciamento da nossa essência, do nosso mundo interior, nos cobra um preço alto. Vamos vivendo uma insatisfação interior, um estado de infelicidade, que vai se tornando crônico, e o que e‘ pior, vamos nos acostumando com esse estado e achando que isso e’ “normal”, que a vida e’ amarga mesmo, que “sou assim mesmo”.
      A velhice e’ a etapa final da vida. E’ quando o corpo esta em decadência, mas a alma –que se realizou interiormente durante a vida-  esta no máximo de sua realização. Por isso que em todas sociedades antigas o “velho” era sempre o sábio e inspirador da comunidade. Mas quando não nos realizamos, quando não passamos por essa “limpeza” de auto exame interior durante toda a vida, ao chegar na velhice, o sentimento interior sera’ de arrependimento, frustração e rancor. Sera’ esse um dos motivos de vermos tantos idosos deprimidos hoje em dia na nossa sociedade? 
    O caminho para auto realização, para se ter um sentido na vida, passa, invariavelmente, pelo auto conhecimento, por se conhecer interiormente. “Homem conheça-te a te mesmo”, era o dizer escrito na entrado do templo de Delfos na antiga Grecia, para os buscadores que iam pedir ajuda ao Deus grego. Socrates dizia que o homem desconhecido de si mesmo e’ um bárbaro. A partir dessa visão, vivemos hoje na barbárie.
    Entendemos muito sobre o universo, mas sabemos pouco sobre nossa timidez ou pelos nossos acessos de fúria.
    Quanto tempo dedicamos a um esforço consciente para nos conhecermos melhor? Quando comecei a distanciar de mim mesmo? Daquilo que mais me importa?
    E’ preciso se conhecer para ter domínio próprio. Um paciente me disse recentemente: “quem não tem domínio próprio, tem um monstro proprio”.
     Quanto mais fugimos de nossos monstros interiores, mais eles têm domínio sobre nos. O caminho de resolução começa primeiro em conhecer esse “monstro”, em aceita-lo. Aceita-lo num sentido que ele faz parte de mim, de que por algum motivo em minha vida criou-se espaço para ele surgir, e por isso a necessidade de conhece-lo. Para ai, aos poucos, irmos domando ele.    
    Por isso que se diz que a felicidade existencial não e’ algo que vem do mundo exterior a nos, mas e’ algo que surgi espontaneamente por uma realização, lenta e gradual, de nosso mundo interior. E o auto conhecimento e’ a chave para isso.
      Um bom e simples exercício para praticarmos isso e’ escrevermos, nos momentos que estamos sozinhos conosco mesmos, sobre situações que estamos vivendo, sobre nossas duvidas, e sobre nossos sentimentos em relação a essas questões. E’ como um diário, não focado em fatos externos mas mais no dia dia de nossa alma. 

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